Agregando pequenos latifúndios: um campo já expandido

Participando das comemorações do dia da Baixada Fluminense, o Sesc recebe as obras do artista plástico Raimundo Rodriguez. Um conjunto total de aproximadamente 40 módulos pertencentes à série “Latifúndio” que se justapõem formando uma grande paisagem de lata e papelão. Ocupando as paredes da galeria uniformemente os “latifúndios” de Raimundo Rodriguez, demarcam as riquezas de um território; as riquezas da Baixada, escapando de alguns rótulos conceituais freqüentes, tais como: “estética da gambiarra” e “art povera”, o que o artista pretende mostrar no evento comemorativo é justamente o oposto: a riqueza visual presente no material descartado, rejeitado, das sobras, revelando sua força expressiva e toda sua maleabilidade intrínseca.

Surpreendendo o público com uma técnica capaz de abrir as latas encontradas aleatoriamente no entorno da própria Baixada Fluminense, o artista cria painéis coloridos, onde as latas são pregadas umas as outras, e as cores são resultantes da fixação da tinta no interior das latas que foram abertas, revelando espontaneamente matizes escondidas, gastas.

Em cima de alguns módulos de lata é possível notar a presença de alguns círculos em tons terrosos formados pelas poucas tampas encontradas juntamente com as latas, como no ofício de um arqueólogo que busca fósseis valiosíssimos.

Aos módulos de papelão são incorporadas colagens que a partir de um efeito pardacento acentuam as tonalidades ocres e terrosas, marca presente em diversos trabalhos do artista, que não nega, e por vezes reafirma a beleza da ação do tempo sobre as superfícies.

Assim, Raimundo Rodriguez nos (re)apresenta a um mundo esquecido onde a precariedade dá lugar à abundância. E como há riqueza nesses pequenos latifúndios imprensados lado a lado em escalas herméticas rumo a um campo que já foi expandido pelas técnicas desenvolvidas, pelas linguagens criadas e pela criatividade humana que em meio ao material rejeitado - vulgarmente denominado de lixo - encontra espaço para a transmutação de sentidos e de valores e quem sabe de olhares?

Renata Gesomino.
Doutoranda pelo PPGAV-UFRJ na linha de pesquisa de história e crítica da arte.