Raimundo Rodriguez - Travessia e Destino

Exposição Sonhos. Galeria 90, 2007.

   Na contracorrente de toda uma geração que parece apenas seduzida ou interessada em novas mídias e tecnologias, Raimundo Rodriguez lança seu olhar para os objetos largados no tempo e no espaço, sacralizando-os com seu gesto rigoroso de arqueólogo dos restos, alçando sua produção para uma transcendência mais objetiva em torno de uma espécie de relicário alquímico das ruas, das memórias, de um país, de um mundo e de si mesmo.
   É possível perceber que suas obras são fruto da união entre o mortal e o imortal, do visível com o invisível. Um objeto morto [invisível], aos olhos do artista encontra desejos e sonhos [visíveis] acima do que a cultura estabelecida pode permitir, com qualidades estéticas igualmente acima daquelas próprias aos objetos em seus antigos cotidianos. Neste conjunto de gestos estão fortemente presentes as ideias de Travessia e Destino, elementos sagrados com os quais o artista parece deslocar-se, indo e vindo, como quem lida de forma selvagem e ao mesmo tempo reflexiva, evocando cores e texturas através de um gesto religioso.
   O artista, acompanhado de seus objetos parece cumprir um Destino. Essa ultrapassagem violenta - sendo esta ainda um objeto mortal - representa também o maior de todos os deslocamentos impostos a todos os objetos artisticos: uma forma nova. Raimundo Rodriguez e seus objetos poderão então nos servir de modelo de transcendência e superação para outros objetos humanos.


Luiz Fernando Carvalho

cineasta e diretor de TV. Entre seus trabalhos estão o filme
Lavoura Arcaica e as minisséries Os Maias,
Hoje é Dia de Maria, A Pedra do Reino e Capitu.