A arte é a ordem. Cada obra de arte tem como objetivo ser um aperfeiçoamento da vida e uma compensação para suas deficiências. Ela exerce uma influência suavizante, concedendo uma ordem ao caos interior que sempre ameaça se apossar de nós.
Conhecimento intuitivo, a criação e a contemplação artística revelam-nos, por um instante apenas, o que a vida de relações, a inteligência e a percepção ordinária ocultam.
O que falar das obras de Raimundo Rodrigues... Elas são o retrato de um artista antenado com seu tempo, frutos de um julgamento estético contemporâneo. Obras que desafiam, incomodam, questionam, ultrapassam a barreira de simples resenhas. Precisam ser sentidas, tocadas.
Raimundo Rodrigues mergulha no seu arquivo pessoal de emoções e lembranças e traz à tona imagens vigorosas, pungentes.
Nascimento e morte, Eros e Tanatos, brigam e se reconciliam a todo instante nestas instalações, objetos, estandartes, criados a partir de sucatas e materiais das mais variadas texturas, recolhidos entre amigos, parentes ou pelas ruas.
São imagens impregnadas de religiosidade, simbolismos, de tributo à vida.
Raimundo oferece um raro momento de prazer. Um banquete dionisíaco de imagens míticas, transcendentais, arquetípicas, que estão além do fenomenal.
A arte de Raimundo Rodrigues propõe a liberdade, a redenção ao caos.
13 de Agosto de 1996
Sylvio Frazão