Raimundo Rodriguez

Exposição Agnus-Dei - Livraria Bookmakers,1995

   São santinhos e fotos antigas, pedaços de pano e tocos de pau, velha forma de metal compondo o requinte e a monumentalidade destas pequenas dimensões, num fundo de sobriedade e delicadeza. Materiais vários como cera, tecido, vidro, pedra – com predomínio da madeira – curados no sono dos dias, estes cacos cotidianos acordam reintegrados ao novo espaço, banhados no verniz propício do sonho do artista. É a vez de Raimundo Rodriguez se debruçar sobre o humano com enternecimento. Nestes objetos pejados de um bíblico sentimento do mundo, ele busca com mãos de artesão o calor íntimo das coisas. Raimundo Rodriguez é um inquieto, inquieto de uma inquietação que o mantém cotidianamente no exercício de suas múltiplas possibilidades. Sua obra cresce na medida dessa inquietação, gerada no pó das estradas. Ele é nordestino e assim se tem dele uma idéia mais aproximada. Seu mundo de homem é seu mundo de artista, aqui a sua ração de universalidade. A cultura nordestina, ou melhor, a mitologia nordestina e o vasto fabulário da crença popular dos subúrbios são alguns dos ingredientes que vem oxigenar seu trabalho neste momento, que os estudos dos textos bíblicos vestem de paixão. O artista soube a sua intuição neste clima e adequá-la as suas intenções. Intenções realizadas num conjunto de admirável coerência. Com essa coerência, que é uma de suas virtudes, deve cumprirum caminho nas artes plásticas brasileiras. Caminho para o qual veio predestinado; caminho que começa a trilhar com inteligência e obstinação.


Rio de Janeiro, Fevereiro de 1994.

André Seffrin

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